1-Geraldo Trombin.
Data de nascimento: 01 de abril de 1959.
Cidade que representa: Americana/SP.
Crônica: Carta na Manga.
Pseudônimo: Mr. Postman.
Pontuação: 364.
CARTA NA MANGA
Antes de começar esta minha carta... Stop! Oh yes, wait a minute…
Tiro o meu Garrard
do ostracismo, confinado há anos naquele móvel lá daquele quarto habitado
somente por pernilongos, traças, formigas, várias teias de aranha e um
sofá-cama estampado, que, mesmo sem uso, já foi reformado uma vez por ter
deitado nele o pó encalacrado dos tempos. Busco, entre os meus mais de 300
discos de vinil, o que tem a famosa "Please
Mr. Postman". Não na versão original da banda The Marvelettes, muito menos na do The Beatles, mas, sim, na que trouxe de volta a canção ao 1º lugar
na Billboard Hot 100, em janeiro de
1975: interpretada pelas maravilhosas e saudosas vozes dos irmãos Carpenters.
Coloco
o bolachão no prato, posiciono a Shure
com muito carinho e cuidado, abaixo
suavemente o braço do toca-discos e deixo rolar (até furar) aquele hit enquanto escrevo. Não existe BG mais apropriado para se falar de
saudade...
Saudades eu tenho, Sr. Carteiro, de quando ainda garoto, enviava cartas
para as embaixadas e consulados pedindo prospectos para conhecer o mundo lá
fora e selos para incrementar ainda mais a minha preciosa coleção.
Saudades das cartas de parentes e amigos distantes que escreviam
avisando que viriam passar uns dias em nossa casa para matar as saudades.
Saudades eu tenho, Sr. Carteiro, das cartas de próprio punho, onde, ao
final das nossas longas declarações de amor (ou de amizade), a gente ainda
assinava embaixo, selando as nossas verdades, os nossos sonhos e também os
nossos pactos.
Wait a minute…
Saudades eu tenho daquele velho carteiro, bem alto e magrinho, que mais
parecia uma vara de bambu sensível a qualquer rajadinha de vento; que abrigava
no topo da sua cachola um gigantesco aeroporto de mosquito; aquele que, há
anos, sumiu da nossa rua porque, talvez, deve estar trabalhando em uma das
agências celestiais dos Correios franqueadas por Deus!
Ah!
Saudades eu tenho até daquela carta anônima – onde já se viu? –, que chegou
depois das horas, sem selo nem chancela! Mas essa, eu sei muito bem que não foi
o Sr. quem me entregou. Descobri que foi deixada na surdina por uma Madalena
completamente arrependida, mas, aí, já era tarde, muito tarde! Apesar disso, as
palavras ali escritas continham veracidade, não como as de hoje: lobo em pele
de cordeiro.
Só
não tenho saudades daquelas cartas que chegavam sorrateiras como emboscada de
tempestade, escurecendo de repente os nossos dias, torvando as nossas noites e
os nossos olhos, avisando que um amigo ou um ente querido havia partido,
deixando o nosso peito partido e saudades para sempre.
Wait a minute…
Hoje, os tempos são outros. Via internet,
por e-mail, ficou tudo meio assim... sei lá... impessoal... superficial...
efêmero... banal... simples de ser deletado. Acabou aquela forte emoção, a
grande ansiedade e a expectativa ao se visitar a caixa de correspondência, só
para ver se o Sr. havia deixado aquela notícia tão esperada.
Então, saudosista que estou, Sr. Carteiro, a partir de agora, deste
exato momento, o acordo está selado: resgato o envelopinho listrado
verde-amarelo “Via Aérea - Par Avion”, a cola Tenaz, o papel almaço, a caneta
Bic azul – resgato inclusive a minha letra de próprio punho (deixando de lado a
letra-padrão do teclado) – para enviar todas as minhas mensagens, tornando-as
como antigamente: autênticas, originais e extremamente sentimentais. Ah! Sempre
tendo como trilha aquele grande sucesso, feito em sua homenagem, que revive e
revitaliza o meu Garrard e também
aquela batida pesada, vibrante, na caixa acústica dos nossos corações.
Um
carinhoso e forte abraço e... até a próxima, meu querido amigo Sr. Carteiro! Já
tenho outra carta na manga!
Pseudônimo: Mr. Postman.