quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

1°lugar no Prêmio 2015



1-Geraldo Trombin.
Data de nascimento: 01 de abril de 1959.
Cidade que representa: Americana/SP.
Crônica: Carta na Manga.
Pseudônimo: Mr. Postman.
Pontuação: 364.

            CARTA NA MANGA
            
            Antes de começar esta minha carta... Stop! Oh yes, wait a minute…
       Tiro o meu Garrard do ostracismo, confinado há anos naquele móvel lá daquele quarto habitado somente por pernilongos, traças, formigas, várias teias de aranha e um sofá-cama estampado, que, mesmo sem uso, já foi reformado uma vez por ter deitado nele o pó encalacrado dos tempos. Busco, entre os meus mais de 300 discos de vinil, o que tem a famosa "Please Mr. Postman". Não na versão original da banda The Marvelettes, muito menos na do The Beatles, mas, sim, na que trouxe de volta a canção ao 1º lugar na Billboard Hot 100, em janeiro de 1975: interpretada pelas maravilhosas e saudosas vozes dos irmãos Carpenters.
       Coloco o bolachão no prato, posiciono a Shure com muito carinho e cuidado, abaixo suavemente o braço do toca-discos e deixo rolar (até furar) aquele hit enquanto escrevo. Não existe BG mais apropriado para se falar de saudade...
       Saudades eu tenho, Sr. Carteiro, de quando ainda garoto, enviava cartas para as embaixadas e consulados pedindo prospectos para conhecer o mundo lá fora e selos para incrementar ainda mais a minha preciosa coleção.
       Saudades das cartas de parentes e amigos distantes que escreviam avisando que viriam passar uns dias em nossa casa para matar as saudades.
       Saudades eu tenho, Sr. Carteiro, das cartas de próprio punho, onde, ao final das nossas longas declarações de amor (ou de amizade), a gente ainda assinava embaixo, selando as nossas verdades, os nossos sonhos e também os nossos pactos.
      Wait a minute…
       Saudades eu tenho daquele velho carteiro, bem alto e magrinho, que mais parecia uma vara de bambu sensível a qualquer rajadinha de vento; que abrigava no topo da sua cachola um gigantesco aeroporto de mosquito; aquele que, há anos, sumiu da nossa rua porque, talvez, deve estar trabalhando em uma das agências celestiais dos Correios franqueadas por Deus!
       Ah! Saudades eu tenho até daquela carta anônima – onde já se viu? –, que chegou depois das horas, sem selo nem chancela! Mas essa, eu sei muito bem que não foi o Sr. quem me entregou. Descobri que foi deixada na surdina por uma Madalena completamente arrependida, mas, aí, já era tarde, muito tarde! Apesar disso, as palavras ali escritas continham veracidade, não como as de hoje: lobo em pele de cordeiro.
       Só não tenho saudades daquelas cartas que chegavam sorrateiras como emboscada de tempestade, escurecendo de repente os nossos dias, torvando as nossas noites e os nossos olhos, avisando que um amigo ou um ente querido havia partido, deixando o nosso peito partido e saudades para sempre.
      Wait a minute…
      Hoje, os tempos são outros. Via internet, por e-mail, ficou tudo meio assim... sei lá... impessoal... superficial... efêmero... banal... simples de ser deletado. Acabou aquela forte emoção, a grande ansiedade e a expectativa ao se visitar a caixa de correspondência, só para ver se o Sr. havia deixado aquela notícia tão esperada.
       Então, saudosista que estou, Sr. Carteiro, a partir de agora, deste exato momento, o acordo está selado: resgato o envelopinho listrado verde-amarelo “Via Aérea - Par Avion”, a cola Tenaz, o papel almaço, a caneta Bic azul – resgato inclusive a minha letra de próprio punho (deixando de lado a letra-padrão do teclado) – para enviar todas as minhas mensagens, tornando-as como antigamente: autênticas, originais e extremamente sentimentais. Ah! Sempre tendo como trilha aquele grande sucesso, feito em sua homenagem, que revive e revitaliza o meu Garrard e também aquela batida pesada, vibrante, na caixa acústica dos nossos corações.
       Um carinhoso e forte abraço e... até a próxima, meu querido amigo Sr. Carteiro! Já tenho outra carta na manga!

Pseudônimo: Mr. Postman.


2°lugar no Prêmio 2015


2-João Alberto.
Data de nascimento: 28 de julho de 1953.
Cidade que representa: Joinville-SC.
Crônica: Ao meu amigo Juvenal, o carteiro.
Pseudônimo: Alexis Virmon.
Pontuação: 288

Ao meu amigo Juvenal, o carteiro

         Não faz muito que me via dirigindo-me à mesa da sala para escrever uma carta. Sim, escrever, o que é diferente de digitar. Era quase que um ritual sagrado. O bloco que estampava na sua capa um aviador, uma caneta tinteiro (era mais chique), um sorriso ou uma lágrima que escorria por nossa face jubilosa ou angustiada, um coração que pulsava serenado ou acelerado a cada frase. Debruçávamos naquelas folhas de seda, delicadas como as palavras que escolhíamos para apor nas linhas, que dedicaríamos a quem destinávamos nossa missiva. Fazíamos isso com o esmero de um artesão e finalizávamos dobrando-a, cuidadosamente, e a encerrando num envelope, que trazia nas suas beiradas as cores verde-amarelo, se seu destino era nacional ou azul e vermelho, se tal era endereçada a alguém residente no exterior. Depois, nos dirigíamos até uma agência dos Correios onde era pesada e selada e, enfim, aguardávamos, dias e dias pela resposta, com a maior das calmas (tá certo que nem sempre! Às vezes aflorava uma grande expectativa).
         Esperar era, também, um ritual. A caixa de correspondência era visitada, diariamente, com avidez e o carteiro (que sempre era o mesmo), de quem sabíamos o nome e o sobrenome (por acaso, alguém, hoje, sabe o nome do seu carteiro?), era sempre que visto, perguntado sobre se alguma correspondência tinha vindo para nós. E quando chegava o que esperávamos quanta felicidade! Bons tempos!
         Os anos passaram, as tecnologias avançaram, as formas de se comunicar se modificaram, as pessoas tornaram-se mais “ocupadas” (e estressadas) e sua vontade para sentar e escrever (escrever?) como antes, o que quer que seja, reduziu ou desapareceu. Até as letras, caprichosamente desenhadas nas saudosas cartas, foi substituída pelo que se chama “fontes”, absolutamente impessoais... Estamos na era da notícia em tempo real, do fast-food, do delivery, do imediatismo em todas as áreas da atuação humana. Vivemos em meio a mensagens pelo celular, e-mails, Skype, Smarts TVs, fibra ótica, do bateu voltou,... Queremos respostas para já e quando elas não vem em, no máximo, uns minutos, ficamos apreensivos e não demora, estamos ligando para o destinatário para saber se recebeu o nosso “torpedo”. Quanto agastamento!
           Agora, escrevo essas linhas, num quase desafogo, pensando para quem eu poderia destiná-las. Quem poderia se importar com o seu conteúdo melancólico? Quem, talvez, se comoveria com elas? Quem daria importância a um pedaço de papel de seda encerrado num envelope qualquer? Súbito, uma luz, uma inspiração. Eu a entregaria, em mãos, para o meu velho e conhecido carteiro de quem fiquei amigo.  Sim, seria uma carta endereçada ao carteiro, que durante tantos anos serviu-me com sua pontual e sempre esperada visita. Mas eu precisava de um início, de algo que expressasse o meu sentimento e sobre o que viria a seguir. Pensei, pensei e, finalmente, um click! Então, assim, iniciei:
        Meu caro, inestimável e inesquecível Juvenal, companheiro de longa data.
        Escrevo-lhe essas linhas em agradecimento por todas as alegrias que me trouxe quando, sorridente, entregava-me aqueles envelopes mágicos. Não quero aqui me referir às notícias ruins que igualmente recebi. Não! Elas não contam. Quero nesse momento lembrar-me, somente, de sua salutar, responsável e feliz pessoa e de quanto lhe sou devedor. Aceite as palavras que seguem como meu saudosismo, meu desabafo, mas, principalmente, como uma homenagem a você e a sua honrada e importante profissão...
       Ah, sim! No envelope eu coloquei: Ao meu amigo Juvenal, o carteiro.


Pseudônimo: Alexis Virmon.

3°lugar no Prêmio 2015


3-Diego de Toledo.
Data de nascimento: 30 de dezembro de 1986.
Cidade que representa: Limeira-SP.
Crônica: A CARTA DO EMBORNAL.
Pseudônimo: CAMINHEIRO DA MANTIQUEIRA.
Pontuação: 287.

A CARTA DO EMBORNAL

Ainda lembro o tempo que ele abraçava a madrugada da metrópole, saindo para as mesmas ruas, vilas e vielas de todos os dias. Percursos tão conhecidos quanto os trechos desta romaria, também percorridos na madrugada de um céu de estrelas.
Quantas cartas, encomendas e telegramas ele já entregou? Provavelmente milhões... Confesso minha total incapacidade de acertar este cálculo, a única certeza é que seu coração é grande, igual seu caráter.
Seu uniforme é amarelo e azul, um herói trajado pelas vestimentas da rotina de luta pelo pão nosso de cada dia, longe das manchetes de jornal e dos destaques televisivos.
Todo o tempo do mundo seria pouco para suas histórias, lembranças e proezas. Que oportunidade seguir junto dele nesta caminhada, nesta estrada em que vidas se cruzam sob a luz da lua, passos pelo infinito caminho da vida, livre como tantas cartas que viajam pelo mundo.
Fico a imaginar um velho carteiro que não recebe cartas, que solidão...
Carregava algumas coisas no embornal e, num dos pousos, rascunhei algumas palavras vindas do coração num pequeno pedaço de papel e coloquei num envelope.
Próximo de nosso destino me apoiei em seus ombros, tirei a carta e o entreguei... Seus olhos brilharam intensamente na leitura de frases tão simples quanto seu modo de vida, um exemplo de homem e de profissional.
Na porta do santuário um abraço selou nossos laços de amizade para a eternidade, conduzidos pelo toque dos sinos de alguma canção postal. Eram poucas as palavras na carta, finalizando com um “muito obrigado”.
Obrigado carteiro... Obrigado meu pai... Obrigado meu velho camarada!


Pseudônimo: CAMINHEIRO DA MANTIQUEIRA.

4°lugar no Prêmio 2015




4-Marcelo de Oliveira.
*Data de nascimento: 07 de novembro de 1966.
*Cidade: Salvador-BA.
*Crônicas: Carteiros.
*Pontuação: 267.

Carteiros

         Desde pequeno tive uma relação muito estreita com os carteiros, olhava-os com carinho e via a sua persistência em entregar os “seus” volumes na sua jornada.
         Antigamente quando não tinha internet, eles tinham uma importância até romântica, pois eram os cicerones de muitos amores, inclusive na minha caminhada amorosa e profissional.
        As correspondências iam e vinham durante a  minha vida inteirinha, tinham uns que eram bons e outros mais fechados, mas como em toda profissão tem pessoas que maculam o seu ofício.
        Entretanto para a entrega das correspondências é somente o processo final, onde a primeira triagem traz muitas e divertidas histórias.
        Durante muito tempo, as agências eram espalhadas por toda a cidade de Salvador, havia até concessão para as agências e para chegar à mão do nosso amigo as normativas da nossa agência oficial foi mudando, colocando valores em tudo, até a carta social que era de um centavo - imaginem!  - existia, mas para ela passar na triagem da recepção os atendentes colocavam as correspondências até contra a luz  para ver se era manuscrita a carta e se tinha alguma foto, se não eles não aceitavam.
        Contudo para os heróis das cartas não havia nenhuma distinção, nosso amigo Jarbas que o diga, ele selecionava com carinho, mesmo com dores de coluna, por causa do peso o qual  ia até o fim de sua jornada.
        Uns não tem tanta dignidade quanto ele, até esconder cartas debaixo do próprio colchão fazem, outros entregam um monte de carta na casa da líder comunitária e dizem que não têm tempo para fazer a entrega.
        As coisas mudaram muito também por causa da criminalidade, pois agora os carteiros não são somente portadores de cartas, eles trabalham com tudo, desde artigos eróticos e até os mais sofisticados celulares, o que os põe na mira dos marginais.
       Com toda essa problemática dos tempos modernos, nosso amigo Jarbas já está aposentado, ele diz que já estava da hora, porque muita coisa errada  existe e essa missão de entregar até a última encomenda está cada vez mais difícil  e perigosa, mas uma coisa  nos  chegamos ao mesmo denominador, a vida sem essas pessoas seriam muita mais sem graça, pois mesmo na era tecnológica e com nosso amigo aposentado, sempre olharei com carinho e presteza esses homens e mulheres  que caminham  “sozinhos”  mas tem um monte de gente acompanhando os seus passos até o seu destino.


Pseudônimo: Som.

5°lugar no Prêmio 2015



5-Flavio Machado.
Data de nascimento: 04 de fevereiro de 1959.
Cidade que representa: Cabo Frio-RJ.
Crônica: Crônica em estado crônico ou Uma carta ao Carteiro.
Pseudônimo: Dersu Uzala.
Pontuação: 256.


Crônica em estado crônico ou Uma carta ao Carteiro
            O assunto surgiu quando visitando um “mega store”, descobri um livro de Glauber Rocha em promoção, que reúne, presumo, toda a sua correspondência, são cartas recebidas e enviadas para cineastas, críticos e amigos.
O fato de ser um livro de Glauber em promoção animou, eu tenho alguns livros do cineasta, o melhor, ou que mais me interessava, emprestei e desapareceu, e não lembro para quem. O preço era de final de feira, R$ 9,90, tinha uma pilha, levando - me a acreditar que tenha encalhado.
                        Com base no livro pergunto: Qual será o futuro da correspondência literária? As cartas trocadas entre escritores, ainda resistem? Será que alguém manda correspondência nas vias normais? Com a rapidez do correio eletrônico (para não usar a palavra e-mail), temo que se dilua, o computador transforma as correspondências, em algo informal e efêmero. Haverá alguma forma de publicar essas correspondências? 
                        Vários livros foram publicados com a transcrição de correspondência trocada entre escritores, não apenas no Brasil, como em outros países. E agora com esse mundo virtual, será possível que daqui a alguns anos serão publicados livros com a correspondência desta época? Poderão surgir outras formas de mídia? O livro será digital, um cd –rom, com toda as “cartas” trocadas pelos contemporâneos escritores.
            E os carteiros o que será da profissão ? Quase não os vemos mais pelos bairros,uniformizados, bolsa a tira colo, distribuindo as correspondências, conhecendo as pessoas pelo nome e endereço. Serão meros entregadores de boletos bancários?  Em segundo plano, e deixarão para sempre a função de portadores das boas e más notícias, da correspondência entre literatos, como seria o carteiro que entregava a correspondência de Manuel Bandeira ? Ou o que entregava a correspondência de Mario de Andrade? Ou mesmo de Glauber Rocha? 
            Recebi uma carta recentemente, manuscrita com letras grandes, desenhadas, de Jacione Freitas, que é um poeta (alguns diriam poetisa), mora em Mãe do Rio no Pará. Escreveu – me para agradecer e ao mesmo tempo presentear - me com dois exemplares do livro que publicou. Havia muitos anos, desde a década de 80, que não recebia carta de algum escritor.
            Nestes tempos virtuais, qual será o destino dos e-mails (acabo por me render)? Serão deletados? Armazenados em alguma pasta eletrônica de back up ? Não sei a resposta, e provavelmente não haverá mais livros com cartas entre escritores, talvez outra forma eletrônica.          
            Um sintoma de como está sendo tratado o assunto, ou do pouco interesse, por este tipo de literatura, é o fato do livro de Glauber Rocha, ter encalhado, ser vendido por preço promocional. Pelo que observei do livro, trata-se de relato de uma época, além de valor literário, tem o histórico, mostrando o pensamento de algumas gerações de cineastas brasileiros e estrangeiros.
Espanta, portanto ter encalhado, será apenas desinteresse das pessoas? Prefiro supor, no entanto, que o livro foi mal divulgado, não tendo o destaque que merecia. Afinal resgata o pensamento de um dos mais geniais diretores de cinema do mundo.


Pseudônimo: Dersu Uzala.

6°lugar no Prêmio 2015



6-Luana Lêdo.
Data de nascimento: 10 de julho de 2001.
Cidade que representa: Araruama-RJ.
Crônica: O carteiro Maycon.
Pseudônimo: LPdeAL.
Pontuação: 228.

O carteiro Maycon

      
      Todo esse tempo eu sentia sua falta, e esperava que você me ligasse, ou viesse me entregar uma correspondência. Fico me perguntando se você saiu do trabalho, ou cansou-se de vir aqui.
       Vivo comprando coisas na net só para ver se você vem aqui, pois parecia que gostava de mim. Fiquei muito mal. Até que, quando eu menos esperava você apareceu.
       Chegou com aquele carro amarelo, logo abri o portão, pois a esperança é a última que morre. Em seguida você saiu do carro e me olhou, senti que era minha hora. Maycon (fui descobrir seu nome muito depois do acontecido) se aproximou e perguntou meu nome, sem demora e desculpas, o respondi.
       Quando eu realmente achei que estava tudo bem, um homem alto e com olhos claros saltou do carro, abraçou e chamou Maycon de amor. E foi aí que minha ficha caiu.
       Você era gay e por isso tinha parado de vir aqui!
       Apesar de eu ter sofrido muito, depois de algum tempo ficamos amigos. Não é mesmo?!

Pseudônimo: LPdeAL.