2-João Alberto.
Data de nascimento: 28 de julho de 1953.
Cidade que representa: Joinville-SC.
Crônica: Ao meu amigo
Juvenal, o carteiro.
Pseudônimo: Alexis
Virmon.
Pontuação: 288
Ao meu
amigo Juvenal, o carteiro
Não faz muito que me via dirigindo-me à mesa da sala para escrever uma
carta. Sim, escrever, o que é diferente de digitar. Era quase que um ritual
sagrado. O bloco que estampava na sua capa um aviador, uma caneta tinteiro (era
mais chique), um sorriso ou uma lágrima que escorria por nossa face jubilosa ou
angustiada, um coração que pulsava serenado ou acelerado a cada frase.
Debruçávamos naquelas folhas de seda, delicadas como as palavras que
escolhíamos para apor nas linhas, que dedicaríamos a quem destinávamos nossa
missiva. Fazíamos isso com o esmero de um artesão e finalizávamos dobrando-a,
cuidadosamente, e a encerrando num envelope, que trazia nas suas beiradas as
cores verde-amarelo, se seu destino era nacional ou azul e vermelho, se tal era
endereçada a alguém residente no exterior. Depois, nos dirigíamos até uma
agência dos Correios onde era pesada e selada e, enfim, aguardávamos, dias e
dias pela resposta, com a maior das calmas (tá certo que nem sempre! Às vezes
aflorava uma grande expectativa).
Esperar era, também, um ritual. A caixa de correspondência era visitada,
diariamente, com avidez e o carteiro (que sempre era o mesmo), de quem sabíamos
o nome e o sobrenome (por acaso, alguém, hoje, sabe o nome do seu carteiro?),
era sempre que visto, perguntado sobre se alguma correspondência tinha vindo
para nós. E quando chegava o que esperávamos quanta felicidade! Bons tempos!
Os anos passaram, as tecnologias avançaram, as formas de se comunicar se
modificaram, as pessoas tornaram-se mais “ocupadas” (e estressadas) e sua
vontade para sentar e escrever (escrever?) como antes, o que quer que seja,
reduziu ou desapareceu. Até as letras, caprichosamente desenhadas nas saudosas
cartas, foi substituída pelo que se chama “fontes”, absolutamente impessoais...
Estamos na era da notícia em tempo real, do fast-food, do delivery, do imediatismo em todas as áreas da atuação humana.
Vivemos em meio a mensagens pelo celular, e-mails, Skype, Smarts TVs, fibra ótica, do bateu voltou,... Queremos respostas
para já e quando elas não vem em, no máximo, uns minutos, ficamos apreensivos e
não demora, estamos ligando para o destinatário para saber se recebeu o nosso
“torpedo”. Quanto agastamento!
Agora, escrevo essas linhas, num
quase desafogo, pensando para quem eu poderia destiná-las. Quem poderia se
importar com o seu conteúdo melancólico? Quem, talvez, se comoveria com elas?
Quem daria importância a um pedaço de papel de seda encerrado num envelope
qualquer? Súbito, uma luz, uma inspiração. Eu a entregaria, em mãos, para o meu
velho e conhecido carteiro de quem fiquei amigo. Sim, seria uma carta endereçada ao carteiro,
que durante tantos anos serviu-me com sua pontual e sempre esperada visita. Mas
eu precisava de um início, de algo que expressasse o meu sentimento e sobre o
que viria a seguir. Pensei, pensei e, finalmente, um click! Então, assim,
iniciei:
Meu caro, inestimável e inesquecível
Juvenal, companheiro de longa data.
Escrevo-lhe essas
linhas em agradecimento por todas as alegrias que me trouxe quando, sorridente,
entregava-me aqueles envelopes mágicos. Não quero aqui me referir às notícias
ruins que igualmente recebi. Não! Elas não contam. Quero nesse momento
lembrar-me, somente, de sua salutar, responsável e feliz pessoa e de quanto lhe
sou devedor. Aceite as palavras que seguem como meu saudosismo, meu desabafo,
mas, principalmente, como uma homenagem a você e a sua honrada e importante
profissão...
Ah, sim! No envelope
eu coloquei: Ao meu amigo Juvenal, o carteiro.
Pseudônimo: Alexis Virmon.
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