quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

2°lugar no Prêmio 2015


2-João Alberto.
Data de nascimento: 28 de julho de 1953.
Cidade que representa: Joinville-SC.
Crônica: Ao meu amigo Juvenal, o carteiro.
Pseudônimo: Alexis Virmon.
Pontuação: 288

Ao meu amigo Juvenal, o carteiro

         Não faz muito que me via dirigindo-me à mesa da sala para escrever uma carta. Sim, escrever, o que é diferente de digitar. Era quase que um ritual sagrado. O bloco que estampava na sua capa um aviador, uma caneta tinteiro (era mais chique), um sorriso ou uma lágrima que escorria por nossa face jubilosa ou angustiada, um coração que pulsava serenado ou acelerado a cada frase. Debruçávamos naquelas folhas de seda, delicadas como as palavras que escolhíamos para apor nas linhas, que dedicaríamos a quem destinávamos nossa missiva. Fazíamos isso com o esmero de um artesão e finalizávamos dobrando-a, cuidadosamente, e a encerrando num envelope, que trazia nas suas beiradas as cores verde-amarelo, se seu destino era nacional ou azul e vermelho, se tal era endereçada a alguém residente no exterior. Depois, nos dirigíamos até uma agência dos Correios onde era pesada e selada e, enfim, aguardávamos, dias e dias pela resposta, com a maior das calmas (tá certo que nem sempre! Às vezes aflorava uma grande expectativa).
         Esperar era, também, um ritual. A caixa de correspondência era visitada, diariamente, com avidez e o carteiro (que sempre era o mesmo), de quem sabíamos o nome e o sobrenome (por acaso, alguém, hoje, sabe o nome do seu carteiro?), era sempre que visto, perguntado sobre se alguma correspondência tinha vindo para nós. E quando chegava o que esperávamos quanta felicidade! Bons tempos!
         Os anos passaram, as tecnologias avançaram, as formas de se comunicar se modificaram, as pessoas tornaram-se mais “ocupadas” (e estressadas) e sua vontade para sentar e escrever (escrever?) como antes, o que quer que seja, reduziu ou desapareceu. Até as letras, caprichosamente desenhadas nas saudosas cartas, foi substituída pelo que se chama “fontes”, absolutamente impessoais... Estamos na era da notícia em tempo real, do fast-food, do delivery, do imediatismo em todas as áreas da atuação humana. Vivemos em meio a mensagens pelo celular, e-mails, Skype, Smarts TVs, fibra ótica, do bateu voltou,... Queremos respostas para já e quando elas não vem em, no máximo, uns minutos, ficamos apreensivos e não demora, estamos ligando para o destinatário para saber se recebeu o nosso “torpedo”. Quanto agastamento!
           Agora, escrevo essas linhas, num quase desafogo, pensando para quem eu poderia destiná-las. Quem poderia se importar com o seu conteúdo melancólico? Quem, talvez, se comoveria com elas? Quem daria importância a um pedaço de papel de seda encerrado num envelope qualquer? Súbito, uma luz, uma inspiração. Eu a entregaria, em mãos, para o meu velho e conhecido carteiro de quem fiquei amigo.  Sim, seria uma carta endereçada ao carteiro, que durante tantos anos serviu-me com sua pontual e sempre esperada visita. Mas eu precisava de um início, de algo que expressasse o meu sentimento e sobre o que viria a seguir. Pensei, pensei e, finalmente, um click! Então, assim, iniciei:
        Meu caro, inestimável e inesquecível Juvenal, companheiro de longa data.
        Escrevo-lhe essas linhas em agradecimento por todas as alegrias que me trouxe quando, sorridente, entregava-me aqueles envelopes mágicos. Não quero aqui me referir às notícias ruins que igualmente recebi. Não! Elas não contam. Quero nesse momento lembrar-me, somente, de sua salutar, responsável e feliz pessoa e de quanto lhe sou devedor. Aceite as palavras que seguem como meu saudosismo, meu desabafo, mas, principalmente, como uma homenagem a você e a sua honrada e importante profissão...
       Ah, sim! No envelope eu coloquei: Ao meu amigo Juvenal, o carteiro.


Pseudônimo: Alexis Virmon.

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