3°lugar:
Evandro Ferreira.
Título: Lá em cima.
Pseudônimo: O Gladiador EF.
Cidade: Caucaia-CE.
Pontuação: 395.
Lá
em cima
De tanto gostarmos de
brincar com um objeto de formato redondo, entre amigos da vizinhança,
naturalmente fomos nos juntando e nos agregando na rua, durante às tardes de
cada dia. Colocávamos duas sandálias em cada lado e num contar de três passos,
ali estavam “as balizas”. Era o chamado “golzinho de praia”. Isso foi chamando
a atenção da molecada de outras ruas e do morro mais perto dali. A galera
queria era jogar em minha rua. Outras vezes contávamos “dez passos” e
colocávamos um goleiro de cada lado. A vontade de vencer era tanta que. também
tinha “pau de briga”. Logo a turma do deixa disso separava. Precisávamos de
cada um para completar os times e ter aquela “gozação” básica das “peladas”. A
rua era de chão batido e com alguns pequenos buracos. Até os homens adultos
passaram a jogar conosco. O sucesso era tamanho que, já se falava em preparar
um campinho. E o lugar escolhido foi “Lá em cima”. Sim! Na rua paralela, mas
que tínhamos que subir um morrinho. Era alegria a cada tarde. E quando chegava o
fim de semana?! Lotava o campinho “Lá em cima”. Verdade que, era uma rua sem
saída, onde colocamos duas madeiras em cada lado e o “travessão” era daquele
fio grosso de energia elétrica. Não havia madeira do tamanho para cada
“baliza”. Ficávamos tristes quando alguém chutava a bola que batia no
“travessão”. Ali o pobre fio preto soltava e caia ao chão. A molecada se
juntava para amarrá-lo bem rapidinho no pedaço de madeira que era a trave.
Certo era que, “Lá em cima” era lugar de lazer. O futebol não podia parar.
Surgiu o primeiro time da rua, formado nesse “campinho” chamado de “Os
Calangos. A “calangada” ficou animada só ter um time e um nome para o mesmo.
Houve época que
fazíamos torneios rápidos. Os mais adultos arrumaram sacos de batatas para
fazer a “rede”.. Era incrível o talento para se ter uma baliza parecida com a
oficial. O gosto em balançar a “rede” era tamanho, só pelo prazer de mutilar o
saco de batatas. A cada chute forte para o gol que entrava, o pobre saco ia se
rasgando até não sobrar nada para o outro dia. Precisávamos de 8 jogadores para
iniciar qualquer jogo. Todas às vezes que movimentávamos a galera, chegavam 7
jogadores. Chamávamos no portão de cada um ou fazíamos barulho “Lá em cima”,
para ecoar e alguns se ligarem que estávamos chamando. Pacientemente
esperávamos. O gozado era que, quando chegava, era um batalhão de gente para
jogar. “Lá em cima” já era um sucesso. Quando alguém perguntava: Vão jogar
onde? Logo, alguém tomava a frente e respondia: “Lá em cima!”. Quando ia caindo
a noite, logo íamos nos preparando para as últimas partidas, pois não havia
iluminação adequada para enxergarmos a bola. Tinha também o terreno abandonado,
nosso caminho, e cheio de mato em que a bola sempre caia e rolava, morro abaixo
ali. Não poderia deixar de mencionar o time dos “coroas” dali que, os mesmos montaram. Eles eram atrações por serem mais velhos, mas
quando ganhavam a primeira e segunda partida, logo a galera se agitava e os
batizamos como “O Time de Museu.
Aos finais de semana
eram certos, eles já se articularem para botar o time de museu contra os times
da molecada. O detalhe é que, quem estava de fora, vibrava com cada escorregão,
cada jogada de efeito e principalmente com cada gol perdido ou marcado pelo
“Time de Museu”. O tempo se passou. Fomos crescendo e criando responsabilidades
e outros se mudando do lugar. Com a era digital, percebemos ou não percebemos que
a molecada não foi crescendo para manter nossa área de lazer. “Lá em cima”,
deixou de ser “Lá em cima”. Além do terreno que servia de passagem ter sido
murado, dificultando a chegada da molecada para jogar. Depois de tantos anos
longe do Rio de Janeiro, quando saí daqui do Ceará para visitar a família e ter
ido na rua ou no “campo”, senti uma tristeza. Vi ali minha infância de muitas
alegrias no futebol, como era antes: uma rua sem saída e mais, abandonada. O
progresso chegou, mas não vi progressão ali. Não haviam traves, fios, bola e
sequer garotos para que, eu os chamassem e tentasse resgatar aquela diversão.
Aquele memória do futebol. O fato é que, “Lá em cima” pode ter acabado de fato
como campo, mas jamais se apagará das nossas memórias e dos nossos corações.
(Pseudônimo: O Gladiador EF)
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