terça-feira, 20 de novembro de 2018

2°lugar do Prêmio 2018




2lugar:
Roque Aloísio Weschenfelder.
Crônica: O Voo da Quimera.
Cidade: Santa Rosa/RS.
Pontuação: 466.





O VOO DA QUIMERA


               Voar pelo espaço levando as ideias que a mente cria, uma profusão sem igual, quando a natureza dotou o ser com a capacidade de ser fértil no pensar, é a máxima que as asas da liberdade podem propiciar.
               A alma sonha com paisagens paradisíacas, de onde Deus não precisaria ter tirado o ser humano, se ele não sonhasse em comer o fruto proibido, mostrado pelo agente que o maléfico enviou para provocar a sedução.
               Esta mesma alma, agora, anseia, quer fazer seu invólucro voar, porém este, no máximo consegue fazer uma corridinha para logo ali. Sorte que a mente não foi limitada a uma mera corridinha também!
               As asas da liberdade, essa liberdade tanto cerceada por mil regras impostas por poderes assumidos ou delegados, permitem ludibriar os impositivos e fazem voar: o poeta com asas de versos em corpo de estrofes; o desenhista com asas de pincéis e tintas, criando figuras e pintando as cenas que deseja; o filósofo com as asas de teorias imaginadas sobre o ser e o não ser; o crente com as asas da religião que o levam a criar seu Deus e todos os profetas a quem dá asas para levas boas novas pelo mundo afora; e as crianças com as asas do faz de conta que as carrega pela imaginação.
               Na crônica da crônica vida de um mundo em que é difícil viver livre de perigos, urge voar com asas da liberdade de pensar e proclamar o pensamento aos cantos de toda a circular esfera habitada para clamar que cessem as disputas e as guerras, que pare o uso de drogas cortadoras da saúde corporal e mental,que se pregue o amor e se alerte contra todo o ódio possível.
               Livre vida só existe com respeito ao livre pensar de todas as pessoas. Enquanto houver quem tolhe a liberdade de expressão, ou existir quem usa a liberdade para prejudicar a ética e a moral, a vida em sociedade será sempre repleta de agruras de convivência. Todos têm o direito às asas com que possam voar rumo a seus anseios, desde que ninguém queira ocupar o espaço necessário para todos os outros seres também voarem livremente. 
               Em cada voo pelos ares poéticas da natureza, onde a alma encontra alívio e paz; em cada voo sobre os mares do amor, onde o coração se enche de esperança; em cada voo pelos ares da saudade, onde o reencontro já não seja possível, mas as lembranças boas se tornam visíveis outra vez; esses voos da quimera são bálsamos para a vida, e nenhuma prisão poda as asas do voo em liberdade.
               Voos.
Asas.
               Liberdade.
               Palavras.
               É possível o voo porque existem asas livres, asas leves, asas soltas e, ao mesmo tempo, asas ligadas ao corpo do pensamento que respeita os limites do espaço do outro, mas ruma em direção aos objetivos que traça para uma vida melhor.
               Asas levam, asas fazem planar, asas libertam da prisão ao chão.
               Liberdade, quatro sílabas almejadas por tantos que estão presos aos próprios preconceitos.
               Palavras, a liberdade que cria asas para voos pela literatura.
               Na crônica dos crônicos dias atuais, liberar as palavras é dar asas aos sonhos que ainda não foram sonhados, é permitir que opiniões possam ser expressas com direito ao ponto e ao contraponto, é mostrar como a única prisão é a opinião manipulada pelos chavões e clichês, pelas ameaças.
               A mente tem asas de liberdade, mas muitas pessoas sequer sabem do que poderiam ser capazes se realmente conseguissem usá-las para voar além da cerca que criam em torno de si próprios.
               Para além de Bagdá, para além dos polos, para além de tudo já descoberto, para além de todos os pensamentos mais avançados levam as asas da liberdade. Pena que tanto ser humano ainda não descobriu essa força e se priva do direito de voar.

(Pseudônimo: Cancela Aberta)

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