sexta-feira, 18 de dezembro de 2015
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
RESULTADO DO PRÊMIO 2015
RESULTADO DO II PRÊMIO RADIOTELEGRAFISTA AMARO PEREIRA DE CRÔNICA:
1º lugar:
Geraldo Trombin.
Cidade: Americana/SP.
Crônica: Carta na Manga.
Pseudônimo: Mr. Postman.
Pontuação: 364.
2º lugar:
João Alberto.
Cidade: Joinville-SC.
Crônica: Ao
meu amigo Juvenal, o carteiro.
Pseudônimo: Alexis Virmon.
Pontuação: 288.
3º lugar:
Diego de Toledo.
Cidade: Limeira-SP.
Crônica: A CARTA DO EMBORNAL.
Pseudônimo: CAMINHEIRO DA MANTIQUEIRA.
Pontuação: 287.
4º lugar:
Marcelo de Oliveira.
Cidade: Salvador-BA.
Crônica: Carteiros.
Pseudônimo: Som.
Pontuação: 267.
5º lugar:
Flavio Machado.
Cidade: Cabo Frio-RJ.
Crônica:
Crônica em estado crônico ou Uma carta ao Carteiro.
Pseudônimo: Dersu Uzala.
Pontuação: 256.
6º lugar:
Luana Lêdo.
Cidade: Araruama-RJ.
Crônica: O carteiro Maycon.
Pseudônimo: LPdeAL.
Pontuação: 228.
terça-feira, 15 de dezembro de 2015
JURADOS DO PRÊMIO 2015
1-Marcia Kanitz.
*Professora e acadêmica.
*Cidade: Casimiro de Abreu-RJ.
2-Edweine Loureiro.
*Professor, escritor e acadêmico.
*Cidade: Saitama – Japão.
3-Anthony Mohammad.
*Escritor e acadêmico.
*Cidade: São Paulo-SP.
4-Marcelo Reis.
*Acadêmico.
*Cidade: São Paulo-SP.
5-William W. Brenuvida.
*Escritor e acadêmico.
*Cidade: Governador Celso Ramos-SC.
6-Cláudia Brino.
*Escritora, ativista cultural e editora.
*Cidade: São Vicente-SP.
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
terça-feira, 27 de outubro de 2015
IVA MARIA ENTREVISTA RODRIGO POETA SOBRE O PRÊMIO
*Veja o vídeo em que Iva Maria entrevista Rodrigo Poeta sobre o II Prêmio Radiotelegrafista Amaro Pereira de Crônica:
quarta-feira, 7 de outubro de 2015
quinta-feira, 1 de outubro de 2015
EDITAL DO II PRÊMIO RADIOTELEGRAFISTA AMARO PEREIRA DE CRÔNICA
II PRÊMIO RADIOTELEGRAFISTA
AMARO PEREIRA DE CRÔNICA
EDITAL/11 - 2015
REGULAMENTO
1. Participantes:
1.1. Qualquer cidadão brasileiro ou estrangeiro, sendo que as crônicas inscritas estejam em língua portuguesa.
1.2. A idade mínima para participação do concurso é de 14 anos.
2. Período de inscrição:
2.1. Início: 01 de outubro de 2015.
Término: 01 de dezembro de 2015.
2.2. Os trabalhos poderão ser enviando para o seguinte endereço postal:
II PRÊMIO RADIOTELEGRAFISTA AMARO PEREIRA DE CRÔNICA
A/C RODRIGO OCTAVIO PEREIRA DE ANDRADE
ENDEREÇO: RUA JORGE LÓSSIO, N°1478.
BAIRRO: VILA NOVA.
CIDADE: CABO FRIO/RJ.
CEP.: 28907-015.
2.3. As inscrições são aceitas até o dia 01 de dezembro de 2015 ou enviadas por via postal até mesma data, valendo o carimbo postal como comprovante do prazo.
2.4. As inscrições poderão ser feitas via e-mail. Enviar até a data limite para: poesiarte@hotmail.com
3. Categoria:
3.1. Crônica – 1 (uma) por concorrente, com máximo de 2 (duas) laudas (folhas).
4.Tema: UMA CARTA PARA O CARTEIRO.
4.1. O objetivo do tema é estimular a criatividade dos participantes, levando-os a uma reflexão para vida neste século. Uma forma de homenagear esta grande profissão.
"Silêncio do outono. Nem o grito do carteiro...
cochicho de folhas."
(Anibal Beça)
5.Textos:
5.1.Deverão ser escritos em língua portuguesa (idem ao item 1.1), digitados em papel branco A4, de um só lado da folha em fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12, espaço 1,5, em 6 (seis) vias (cópias).
5.2. Não serão aceitos trabalhos manuscritos, ou seja, fugir do padrão exigido. (ver item 3.1)
5.3. Os trabalhos deverão ser inéditos, isto é, ainda não publicados em nenhum meio de comunicação ou em livro e principalmente por sites ou blogs na internet.
5.4. Os textos deverão conter exclusivamente o título da obra e o pseudônimo do autor.
5.5. Os pseudônimos não deverão guardar qualquer semelhança com o nome, apelido ou outro fator de identificação do concorrente, pois se houver o inscrito será eliminado.
5.6. Casos de plágios serão denunciados pela organização do concurso.
6. Apresentação dos trabalhos por envelope e via e-mail.
6.1. Os trabalhos deverão ser enviados dentro de um envelope endereçado da seguinte maneira (idem ao item 2.2):
II PRÊMIO RADIOTELEGRAFISTA AMARO PEREIRA DE CRÔNICA
A/C RODRIGO OCTAVIO PEREIRA DE ANDRADE
ENDEREÇO: RUA JORGE LÓSSIO, N°1478.
BAIRRO: VILA NOVA.
CIDADE: CABO FRIO/RJ.
CEP.: 28907-015.
No remetente deverá vir escrito o nome do autor e o endereço.
6.2. O pseudônimo não poderá vir escrito no exterior do envelope.
6.3. Todas as folhas dos trabalhos deverão conter apenas o pseudônimo no rodapé, sem assinatura ou qualquer ou tipo de identificação.
6.4. A ficha de inscrição deverá estar preenchida e assinada e deverá vir dentro do envelope.
Segue o modelo de ficha de inscrição:
Nome completo;
Cidade de origem:
Data de nascimento completa:
Cidade que representa:
Atividade que ocupa:
Título da crônica:
Pseudônimo:
Site ou blog:
E-mail:
Endereço postal:
6.5. Caso o inscrito não preencher devidamente o formulário acima não estará qualificado para o certame do concurso.
6.6. Não haverá devolução dos trabalhos recebidos.
6.7. Os trabalhos que não obedecerem às regras deste concurso serão automaticamente desclassificados.
6.8. As crônicas enviados por via e-mail deverão estar em documento Word, seguindo as especificações do item 5.1.
6.9. Não serão aceitas inscrições através de PDFS ou digitalizações.
7. Julgamento:
7.1. O corpo de jurados será formado por profissionais da área, altamente qualificados pela Comissão Organizadora do Concurso, que serão conhecidos e apresentados brevemente no blog:
7.2. As decisões do júri são soberanas e irrecorríveis.
7.3. Serão ainda critérios para o julgamento das obras inscritas:
a) Vocabulário.
b) Conotação (uso de figuras de linguagem).
c) Estrutura narrativa (enredo, narrador, personagem, tempo, espaço e discurso).
d) Intertextualidade.
e) Criatividade.
7.4. Cada item acima valerá 20 pontos, o somatório de todos itens é de 100 pontos.
7.5. Serão 06 (seis) jurados que farão suas avaliações e irão comentar cada obra finalista, dando o resultado final após o somatório dos pontos.
7.6. Manter o texto dentro das dimensões propostas no Regulamento.
7.7. Não serão aceitos trabalhos fora do tema estipulado.
7.8. Trabalhos com menções pornográficas, preconceituosas (cor, raças, sexo, religião, etc) serão automaticamente eliminados pelo júri.
7.9. A comissão organizadora decidirá sobre as omissões deste regulamento, depois de ouvida a opinião do júri.
8.Divulgação dos resultados:
8.1. A divulgação das crônicas com os seus pseudônimos será feita através do blog do concurso.
8.2. O resultado final do concurso será no dia 15 de dezembro de 2015.
8.3. Tudo será divulgado no blog do concurso.
8.4. Caso ocorra atrasos nos resultados as datas serão modificadas e os inscritos saberão através do blog.
9. Premiação:
9.1. O primeiro colocado receberá a Revista Literária Cabeça Ativa editada por Cláudia Brino e Vieira Vivo, Jornal Letras Santiaguenses de Santiago-RS editada por Auri Antonio Sudati e Zé Lir Madalosso, um diploma, o livro "A Bala Envenenada" de Elisânia Peres e uma medalha.
9.2. O segundo colocado receberá a Revista Literária Cabeça Ativa editada por Cláudia Brino e Vieira Vivo, Jornal Letras Santiaguenses de Santiago-RS editada por Auri Antonio Sudati e Zé Lir Madalosso, um diploma, o livro "A Bala Envenenada" de Elisânia Peres e uma medalha.
9.3. O terceiro receberá o Jornal Letras Santiaguenses de Santiago-RS editada por Auri Antonio Sudati e Zé Lir Madalosso, um diploma, o livro "A Bala Envenenada" de Elisânia Peres e uma medalha.
9.4. Caso no decorrer do concurso a comissão organizadora possa adquirir patrocínios, os prêmios serão mais pomposos com a realidade do concurso.
9.5. Não será permitido empate.
9.6. Disposições Gerais:
9.6.1. O II PRÊMIO RADIOTELEGRAFISTA AMARO PEREIRA DE CRÔNICA se reserva no direito de publicar as crônicas inscritas, vencedoras ou não, em livros, ficando explícito que o ato de inscrição através da ficha implica em autorização para publicação.
9.6.2. Os autores das crônicas publicadas serão automaticamente avisados por via e-mail.
Cabo Frio, 22 de setembro de 2015.
Rodrigo Octavio Pereira de Andrade (Rodrigo Poeta)
Coordenador e idealizador do II PRÊMIO RADIOTELEGRAFISTA AMARO PEREIRA DE CRÔNICA
Anthony Mohammad
Coordenador de Divulgação pela Internet do II PRÊMIO RADIOTELEGRAFISTA AMARO PEREIRA DE CRÔNICA
APOIO:
ABRAONG (SÃO PAULO/SP)
*Andrea Pires e Marcelo Reis.
PORTA ÁRABE - ALTO TIETÊ - (SÃO PAULO/SP)
*Anthony Mohammad.
PROGRAMA ESTAÇÃO NOTÍCIAS (Região dos Lagos/RJ)
*Iva Maria.
PEACE MISSION (Paquistão)
*Wajid Saeed.
NOTICIÁRIO DOS LAGOS (Região dos Lagos/RJ)
*Sylvia Maria.
EDITORA COSTELAS FELINAS (São Vicente/SP)
*Cláudia Brino e Viera Vivo.
Anthony Mohammad
Coordenador de Divulgação pela Internet do II PRÊMIO RADIOTELEGRAFISTA AMARO PEREIRA DE CRÔNICA
APOIO:
ABRAONG (SÃO PAULO/SP)
*Andrea Pires e Marcelo Reis.
PORTA ÁRABE - ALTO TIETÊ - (SÃO PAULO/SP)
*Anthony Mohammad.
PROGRAMA ESTAÇÃO NOTÍCIAS (Região dos Lagos/RJ)
*Iva Maria.
PEACE MISSION (Paquistão)
*Wajid Saeed.
NOTICIÁRIO DOS LAGOS (Região dos Lagos/RJ)
*Sylvia Maria.
EDITORA COSTELAS FELINAS (São Vicente/SP)
*Cláudia Brino e Viera Vivo.
sexta-feira, 6 de março de 2015
1° lugar no Prêmio Radiotelegrafista Amaro Pereira de Crônica
1°
lugar no Prêmio Radiotelegrafista Amaro Pereira de Crônica
Nome: Diego de Toledo Lima da Silva.
Cidade que representa: Limeira/SP.
Pseudônimo: Caminheiro da Mantiqueira.
Crônica: Viagem memorial.
VIAGEM MEMORIAL
A
estrada era dos revolucionários e o caminho da imaginação. Cortando grandes
matas tropicais, conflitos e guerras perpetuavam a memória, entristecendo a
alma do andarilho. Vietnã era uma ferida aberta na história contemporânea,
assim como a Revolução Constitucionalista de 32 era para a história local.
Os
sons das botas e das marchas militares eram rotina em meio ao clima úmido
daquelas matas, bem como tiros e explosões nas trincheiras de terra. Os tempos
eram outros, mas vários dos erros os mesmos. O mundo e as nações continuam em
conflitos internos e externos, além da calejada violência urbana.
Propagar
a paz e o caminho do diálogo é uma obrigação, considerado alucinação por
muitos. Loucura é viver nesse mundo em briga, destrutivo com suas máquinas,
armas químicas e bombas.
Buscar
a paz não apenas nas relações sociais, mas também com a natureza, seus
elementos vivos e físicos, compreendendo a vida em plenitude. Espelhar-se na
história, repetindo os bons exemplos e evitando antigos erros.
A
partir da construção da paz interior, as mensagens serão multiplicadas para os
viventes, ideais de amor, bondade e respeito às diferenças. O contato com a
natureza e seu caminho leva às trincheiras da vida e do pensamento, saudações
de paz ao próximo.
Hiroshima,
Saigon, Palestina e Joanópolis, terras com cicatrizes de lutas passadas ou
presentes, povo simples vivendo um dia após o outro. Na memória fatos de
guerra, no coração o pedido de paz.
Naquela
estrada, caminhantes apenas seguiam a marcha, longe do antigo limiar entre a
vida e a morte. Persistiam em frente, construindo sentido e direção a cada
passo, lutando consigo mesmo, vencendo os maus sentimentos e preconceitos
internos.
Mesmo sendo a estrada dos revolucionários,
tranquilidade e calma reinam em sua trilha, carregada de histórias, momentos e
viagens memoriais. E no final da jornada, ao encontrar outro viajante, diria
apenas: Siga em paz, sempre em paz meu camarada!
Pseudônimo: Caminheiro da Mantiqueira.
2° lugar no Prêmio Radiotelegrafista Amaro Pereira de Crônica
2°
lugar no Prêmio Radiotelegrafista Amaro Pereira de Crônica
Nome: Geraldo Trombin.
Cidade que representa: Americana/SP.
Pseudônimo: Ana Crônica.
Crônica: “Achômetro”.
"ACHÔMETRO"
Tem gente que acha que está na profissão de fé do Vaticano ou nos braços escancaradamente abertos do Cristo Redentor. Tem gente que acha que está lá pertinho do céu: na nuvem que passa alheia ao tempo do relógio, no voo de um passarinho desatento à correria dos homens, no rastro de um Boing transportando destinos ou bem no topo da Torre Eiffel.
Tem gente que acha que está nas
tentadoras cartas de vinhos do Porto ou nas românticas, piegas e apaixonadas
cartas de amor. Tem gente que acha que está na queimação da carne, na brasa dos
brutos nas coxas das Anas do porto.
Tem gente que acha que está no haimi dos hacais de Bashô, nos quatro versos
com rimas ABAB e sentido completo das trovas de Luiz Otávio ou no grande
universo de versos de Leminski, Quintana, Gullar ou Drummond. Tem gente que
acha que está nas palavras do Museu da Língua Portuguesa, nas histórias Museu
do Ipiranga ou nos vernissages do
MASP. Tem gente que acha que está no olhar cândido de uma criança. Tem gente que acha que está nas mãos
seguras da maturidade ou nos pés experientes da melhor idade.
Tem gente que acha que está no
“Libertango” de Piazzola, no rock pauleira do Led Zeppelin e Black Sabbath ou
na androginia do The New York Dolls. Tem gente que acha que passeia calmamente
pelos teclados eruditos de Arthur Moreira Lima ou se agita nas loucas
experimentações do albino Hermeto Paschoal. Tem gente que acha que está nas
sete maravilhas do mundo. Tem gente que acha que está em Marte, Netuno, Saturno
ou no mundo da lua (Salve, São Jorge!).
Tem gente que acha que está no galho da
roseira, na copa dos ipês ou nos tapetes florais sobre as calçadas do outono.
Tem gente que acha que está nos bonecos de neve ou no trenó e no “ho-ho-ho” do
Papai-Noel. Tem gente que acha que está nas graças do trabalho ou no balanço da
rede do ócio. Tem gente que acha que está na corrente de ouro, no brinco de bijuteria
ou em uma simples pulseira de plástico.
Tem gente que acha que está no relax de cada estourinho do
plástico-bolha, no estalar relaxante dos dedos ou no sabor de infância do
bolinho de chuva da vovó. Tem gente que acha que está nas cinzas da ponta do
cigarro, nas cinzas de um ente querido ou no sentido profundo da quarta-feira
de cinzas.Tem gente que acha que está na paixão dos eternos namorados. Tem
gente que acha que está na eterna sexta-feira da paixão.
Tem gente que acha que está no rodopio
deslizante do pião no chão das quimeras, nas deliciosas brincadeiras de
garrafão, passa-anel ou esconde-esconde. Tem gente que acha que está no jogo:
de cartas, dama, sinuca ou loteria.Tem gente que acha que está na bola de
futebol chacoalhando a rede ou na bolinha de gude fubecando o adversário e
caindo no buraco das vitórias.
Tem gente que acha que está nos braços e
abraços do grande amor da sua vida ou do verdadeiro amigo. Tem gente que acha
que está no estender fraterno da mão ao irmão. Tem gente que acha que está no
reflexo poético da lua na lagoa, no rio ou no mar. Tem gente que acha que está
no brilho intocável das 3 Marias ou da Via Láctea.
Tem gente que acha que está no assobio
desavisado do papai ou da mamãe cuidando do dia a dia, no canto alertador do
bem-te-vi protegendo o filhote ou no cântico fervoroso dos templos e igrejas.
Tem gente que acha que está na
simplicidade e na meditação do Caminho de Santiago de Compostela; nas missas,
nos terços e santos comercializados em Aparecida do Norte ou na peregrinação
pelas rampas e escadarias do Santuário de Santa Paulina em Nova Trento. Tem
gente que acha que está nos balneários dos Circuito das Águas, nos passeios de
moto pelas regiões montanhosas dando a cara para o vento bater ou no campo
ordenhando vacas e galopando sonhos.
Tem gente que acha um tantão de coisa, mas
jamais se encontra, porque simplesmente não sabe que a bandeira branca sempre
esteve hasteada dentro do próprio peito. Só que nunca abriu as portas da sua
sala interior, muito menos se convidou para entrar, se sentar e ali ficar
(horas e mais horas), prazerosa e atentamente, curtindo e dando ouvidos ao que
Zizi Possi e Gil já entoaram tão maravilhosamente bem: a paz invadiu o meu
coração...
Pseudônimo: Ana Crônica.
3° lugar no Prêmio Radiotelegrafista Amaro Pereira de Crônica
3°
lugar no Prêmio Radiotelegrafista Amaro Pereira de Crônica
Nome: Denivaldo Piaia.
Cidade que representa: Campinas/SP.
Pseudônimo: Inéd.
Crônica: O dia em que Deus acordou inspirado.
O dia em que Deus acordou inspirado
Houve sim um dia em que
Deus acordou inspirado. Tudo bem que Deus está sempre inspirado; como seria se
não fosse assim? Mas naquele dia foi diferente. Ele estava realmente muito
inspirado. Sentiu uma vontade imensa de fazer algo novo, grandioso,
sensacional. Até parecia que não havia sido assim o tempo todo. Mas Ele queria
algo para não passar em branco pela terra, pelo universo, pelos homens. Afinal,
estava num bom humor incontido. Discreto, mas incontido.
Pensou numa grande
obra, talvez numa montanha maravilhosa que pudesse ser vista por todos, com
flores e árvores exuberantes, com uma simetria perfeita, de forma que nenhum
gênio da pintura encontrasse qualquer defeito, por menor que fosse, mas... -
Não... Certamente isso já foi feito em algum canto esquecido do tempo, antes de
ser destruído pela expansão imobiliária.
Quem sabe um mar
quebrando calmamente numa ilha... -
Não, já fiz tanto disso por aí! – lembrou Ele.
E um céu todinho azul,
passando para o carmim lá no horizonte, enquanto o sol... – Besteira, isso
acontece todos os dias e ninguém dá a menor atenção. –murmurou.
Já sei! – animou-se. – Um ser
humano perfeito, sem qualquer traço de egoísmo, sem... Peraí, pô! Isso eu to
cansado de fazer! As pessoas já nascem todas, de certa forma, perfeitas, até
mesmo aquelas que se julgam deficientes. A verdadeira imperfeição vem depois, e
aí já não é comigo. Ainda bem que inventei o livre arbítrio pra ninguém
reclamar.
Achou graça da situação
e deu uma sonora gargalhada, logo abafada por alvas mãos. Afinal, Deus não
poderia sair gargalhando por aí. Já pensou como se sentiriam aqueles que
acreditam num Deus severo e vingativo? Seria uma grande decepção para eles.
Possivelmente até pensariam se tratar de um impostor. “Onde já se viu um
Deus que ri e se diverte!” –exclamariam. “Não, não pode. Deus é
perfeito”. Como se demonstrar felicidade fosse pecado. Talvez os artistas
tenham a maior culpa por esse pensamento. Alguém aí já viu um santo, um Cristo
ou até mesmo um Deus retratado com expressão alegre? Fica a impressão que todos
eles apenas sofreram durante todos os seus dias, sem nenhum momento de alegria,
de satisfação pela vida. Talvez seja por isso que muita gente tenha até certo
medo de ser bom. Parece que para ser boa, a pessoa tem que sofrer, que é
impossível ser bom sem sofrimento, sem dor, sem humilhação. Olhe para as
expressões dos santos e veja se não é verdade.
Mas voltando ao Deus
inspirado, lá estava Ele pensando com seus botões, que não eram poucos naquele
roupão alvo e longo. Sem conseguir se definir por algo que O contentasse, batia
compassadamente com a régua sobre a escrivaninha, concentrando-se em
pensamentos vagos, entrando num estado de semi cochilo profundamente agradável.
Talvez reflexo do cansaço.
Pouco tempo depois o
cochilo de Deus virou um pesado sono. Roncando e babando sobre o braço,
debruçado em sua escrivaninha, tirava o sono dos anjos. E com isso o mundo
entrou em estado de graça. Por alguns instantes a natureza silenciou, os mares
se acalmaram, tempestades deram pausa, vulcões, furacões, ciclones, tudo
experimentou uma calma nunca vista. Só os homens, sua mais perfeita criação,
não deram a menor importância ao momento, enquanto a vida celebrava a
inspiração divina. E foi nesse clima celestial que Deus teve um sonho. Não um
pesadelo, não um sonho desconexo, mas um sonho que respondeu aos seus anseios
e, finalmente, num brado de alegria despertou.
- Agora sim! Gritou enquanto enxugava a
baba nas longas e largas mangas do roupão. – Finalmente encontrei a
resposta! Agora sim vou fazer algo grandioso para ficar na primeira página de
meu portifólio.
Sem notar a natureza
que voltava ao seu ritmo normal, empolgado pela inspiração que Lhe foi
concedida em sonho, o Criador lançou mãos à obra imediatamente, dando o melhor
de Si na sua mais nova e perfeita criação. E assim Deus começou, inspirada e
lentamente, a elaborar cada um dos meus amigos.
Pseudônimo: Inéd.
4° lugar no Prêmio Radiotelegrafista Amaro Pereira de Crônica
4°
lugar no Prêmio Radiotelegrafista Amaro Pereira de Crônica
Nome: João Amilcar Valle Aboud.
Cidade que representa: Brasília/DF.
Pseudônimo: Arturo.
Crônica: Meu filho voltou.
MEU FILHO VOLTOU
A campainha tocou, abri a porta e vi
o meu filho que voltou da prisão. Ele parecia ter voltado de uma guerra. Eu sei
que é meu filho esse homem magro e triste, com olhos de velho, só por tê-lo
visto nascer, crescer e se perder por ai. Abracei o seu corpo querendo abraçar
a sua alma e me espetando nos seus ossos e na sua tristeza. Disse bem vindo
pensando meu Deus.
Ele esperou que eu o liberasse do
abraço e caminhou até o sofá da sala, ante o qual parou. Eu lhe disse que podia
se sentar e ele se sentou lentamente, apoiando as costas, deixando as mãos
sobre os joelhos e a cabeça baixa. Sentei na poltrona em frente, tentando
expressar com o meu olhar a compreensão para com tudo o que ele tivesse para me
dizer, como fazia quando ele era menino e chegava a casa com as roupas rasgadas
ou um boletim com notas baixas.
Alguns minutos gigantescos se
passaram até ele começar a me contar o que acontecera enquanto esteve preso,
entremeando enxurradas de palavras com silêncios repentinos. O que ele me
relatou foi inaceitável, quase inacreditável. As suas certezas, as suas
ilusões, a sua inocência, não voltaram com ele do presídio.
Enquanto ele falava eu ia pensando
na guerra que parece estar acontecendo lá fora, em como tantos jovens se armam,
todos os dias, como se fossem para batalhas sem fim e saem das nossas casas
para assaltarem ou venderem drogas para outros jovens não menos enganados,
igualmente perdidos. Às vezes parece que cada dia é uma batalha com balas
trocadas e perdidas entre a polícia e os bandidos, gente enganando aos outros e
deixando a moral e a decência de lado. Mas não posso permitir que essa sensação
de impotência e perdição me domine. Preciso resistir, por mim e por meu filho.
A paz nas ruas depende da paz nos nossos íntimos. A guerra acaba quando a
tiramos do coração.
- Quantas vezes, pai, eu queria você
lá comigo, nem que fosse só para passar a mão nos meus cabelos, dizer que
daríamos um jeito, que estava tudo bem. Ai, eu fechava um pouquinho os olhos e
imaginava como seria voltar para casa, abraçar você e contar o que tinha
acontecido. Foi tão difícil pai, tão difícil. Mas eu consegui. Eu consegui. Eu
estou aqui pai. E o seu abraço foi tão bom... Deus!
-
Sim filho, você conseguiu. Está aqui agora, na nossa casa. O seu quarto está
como você o deixou, lhe esperando. Só arrumei e limpei um pouco. O que pretende
fazer?
-
Fazer o que pai? Este mundo é assim mesmo. Não tem jeito, não tem outro modo de
viver. Não tem trabalho, só riqueza para roubar e droga para vender. Eu queria
que fosse diferente. Eu quero ser diferente pai. Me ajuda?
-
Filho, o mundo não é, não foi, nem será mais do que terra, água e ar. Nós o
fazemos melhor ou pior de se viver, nós escolhemos o que plantaremos e o que
colheremos. Se existe uma guerra acontecendo lá fora é por termos deixado de
acreditar na paz e na nossa capacidade de resolvermos os problemas com respeito
e honestidade, estudando e trabalhando para ter as coisas. Eu vou lhe ajudar, é
claro.
Conversamos ainda por quase uma hora, até que
ele se calou e começou a chorar. Eu me levantei, atravessei a sala como se os
meus pés pesassem centenas de quilos, sentei ao seu lado, passei um braço por
sobre os seus ombros e chorei também. Ficamos assim por um período inestimável.
As lágrimas cessaram. Fui até a
cozinha buscar café e biscoitos. Quando retornei o encontrei em pé, imóvel,
diante da porta ainda aberta, os olhos fechados e os braços apertando o peito.
Lá fora o caminho do longe. Ainda podia vê-lo passando pelo portal, me sorrindo
e dizendo que voltava logo, para sumir por tanto tempo, cada dia um ano, cada
noite um século, até retornar assim.
Senti dor. Senti ódio. Senti medo.
Fechei a porta rápido, com força, trancando-a e escorando-me a ela. Vi o meu
filho que voltou da guerra. Outra vez ela não o levaria.
No dia seguinte começamos a
percorrer as escolas próximas, pedindo autorizações aos diretores e professores
para conversarmos com os alunos sobre a importância de dizermos não à
violência, aos roubos e às drogas. Eu falava da terrível saudade que sofri sem
o meu filho e ele relatava os horrores que passara na prisão.
Isso foi há um ano. Continuamos com
as palestras nas escolas. Meu filho arranjou um emprego e está estudando a
noite. Começou a namorar com uma colega de trabalho e
estão falando em casamento e filhos. Quem diria, eu vovô?
Pseudônimo: Arturo.
5° lugar no Prêmio Radiotelegrafista Amaro Pereira de Crônica
5°
lugar no Prêmio Radiotelegrafista Amaro Pereira de Crônica
Nome: Wellington de Sousa Oliveira.
Cidade que representa: Cabo Frio/RJ.
Pseudônimo: Daniel Davis.
Crônica: Na Parede.
NA PAREDE
Não
há nada de excitante, novo ou desafiador no trabalho de varrer ruas, manter o
patrimônio público limpo. Para mim nunca houve durante todos os meus anos
executando tal serviço.
Naquela
tarde quente eu ofegava enquanto varria a praça, mais precisamente atrás dos
banheiros públicos. Eu estava estafada. Não era para menos. Eu, uma mulher na
casa dos quarenta andando para baixo e para cima na cidade escaldante
movimentando uma vassoura... Já não dava mais pra mim. Mas eu me mantinha
firme.
Eu
tinha quase todo o trabalho terminado por ali quando as frases escritas com canetinha
na parede branca dos fundos do banheiro roubaram a minha atenção.
A
frase escrita em azul dizia “Mulheres são o umbigo do mundo” e logo abaixo a
outra frase com escrita em rosa e com grafia diferente dizia “E aposto que você
não tem nenhum umbigo”.
Eu
ri baixo e continuei varrendo com essa mulher morena e muito alta se aproximou
e cruzando os braços se apoiou contra a parede.
“Precisa
de alguma informação, dona?” eu questionei.
“Não
preciso de nada. Só da espera. Vou ficar esperando aqui até que a atual esposa
do meu ex-marido passe e vou dar uns tiros na cara dela’.
Eu
engasguei, paralisei com aquilo que eu ouvi. Pelo resto do dia as minhas duas
mais importantes decisões foram ficar longe da mulher que agora me assustava e
não tentar apagar as frases que vandalizavam a externa parede branca do
banheiro... Porque me faziam rir.
Na
tarde seguinte eu me aproximei curiosa da mesma parede para descobrir que a
troca de frases havia prosseguido. A nova frase em azul dizia “E são essas
atitudes que mostram que eu estou certo” e a frase abaixo em rosa dizia “Boa
sorte pra você sendo solteiro pro resto da vida ao se comportar assim”.
A
mulher alta e misteriosa retornou também. Eu não pude me conter. Eu me
aproximei com perguntas então e ela não teve problemas em responder. Ela disse
que era apenas uma possibilidade que a esposa do seu ex-marido passasse ali
pela praça em alguma tarde e quando acontecesse ela recolheria a arma em sua
bolsa e executaria seu plano.
Eu
estava apavorada e de repente não era só por saber dos planos horríveis da
mulher. Era também a discussão que crescia em escrita na parede, era a
violência do mundo ao meu redor em geral. Eu já estava esgotada de todo esse
mal, mas o que eu podia fazer? Era um oceano de gente promovendo briga e eu era
uma gota nesse infinito querendo a paz... Então eu rezava. Eu esperava e
solitariamente tentava manifestar o melhor.
Aquela
mulher passou a esperar sua rival ali na praça todos os dias sem exceção, por
vários dias. As frases escritas na parede, aquele diálogo entre dois estranhos
ia aumentando.
“Você
me tira do sério, garoto! Tão, tão ridículo!” estava escrito em rosa.
“Por
que não prova de uma vez que estou errado?” estava escrito em azul.
Naquela
tarde de sexta-feira eu avistei a bonita jovem baixinha se aproximando da
parede do banheiro. Ela tirou a tampa da canetinha cor de rosa. Segundos
depois, antes que ela pudesse começar a escrever, o jovem loiro veio na outra
direção tirando a tampa da canetinha azul em sua mão. Eles estavam um ao lado
do outro em frente à parede. Assustados se olharam. A mulher alta com a arma
dentro de sua bolsa já estava ali e assim como eu observava.
Os
jovens encararam suas frases, encararam o sorriso um no outro que agora se
desenhava... E se beijaram, se abraçaram.
Mas
o que eu via agora? Lá vinha a mulher loira com vestido curto de seda e colar
de pérolas. Era a rival da mulher alta.
O
chão sumiu debaixo dos meus pés. A mulher alta já tinha a avistado também. Eu
sabia que ela tiraria a arma da bolsa e atiraria naquele instante como havia
prometido. Seria agora, agora!
Mas
a mulher foi embora com sua arma. Partiu na direção oposta da sua rival. Ela
sorria. Sorria porque ao se afastar ainda olhava algumas vezes para trás e
espiava o jovem casal que se beijava.
Eu
finalmente liberei o ar preso no meu peito apreensivo e não parava de pensar.
Eu era só uma gotinha que queria a paz, mas os jovens também se tornaram duas
gotinhas da paz e ainda conseguiram transformar a mulher com sua arma em uma
gotinha da paz. Agora éramos quatro
gotinhas querendo paz em meio ao oceano cheio de ira. Parece pouco?
Não
pra mim que antes achava que era apenas eu.
Pseudônimo: Daniel Davis.
quarta-feira, 4 de março de 2015
6° lugar no Prêmio Radiotelegrafista Amaro Pereira de Crônica
6°
lugar no Prêmio Radiotelegrafista Amaro Pereira de Crônica
Nome: Luiz Alberto dos Santos.
Cidade que representa: Coruripe/AL.
Pseudônimo: eleaesse.
Crônica: kisuco e kaviar.
kisuco e kaviar
Início de 1.970. A
escuridão e o absoluto silêncio tomavam conta da, ainda virgem, floresta
amazônica. Nunca se vira, em toda a existência desta floresta, tamanho breu.
Tão fúnebre silêncio. Apesar do céu limpíssimo, nenhuma estrela. Era noite de
lua, mas, onde estaria a lua? Uma
limpíssima noite e... sem lua ou estrelas. Cadê os bichinhos da noite? Nem as
corujas, nem os vagalumes, nem os sapos cururus... Nem as cachoeiras, nem os
rios e igarapés. Nem uma folha, entre milhões, balançava. Era sábado! Dia de
festa na floresta!... Porque todo aquele e tenebroso silêncio!?... Porque
aquele noturno céu, de cor tão, tão, estranha, pesada?...
Sim, a grande
floresta estava quieta, cansada. Desgostosa e depressiva. Por volta das cinco
da tarde, antes da noite chegar de fato, a virgem floresta bem que fizera
grande algazarra. Uma senhora manifestação!
A grande floresta se mexeu, sim senhor. O sopro do grande vento,
agitando cada árvore; o redemoinho nervoso nos rios e igarapés; o agudo tororó
das grandes cachoeiras; o estardalhaço nos bicos das mil aves; os urros
medonhos dos mamíferos; o deslizar e o assovio nervoso das grandes e pequenas
serpentes e os olhares imensamente inocentes de todos os filhotes. Oh, mas não
era o tipo de manifestação em que se
espera colher bons resultados. Agrande floresta já sabia que, infelizmente era
causa perdida, inrreversível. Mesmo assim... Quem sabe, um milagre...
Arrepiante, ver os feixes de luzes violetas, na correria dos espíritos dos
grandes caciques, saídos das malocas e tabas, sagradas e eternas, para virem,
também eles, defender a floresta. Sua floresta.
Porém... Nada!
Nada adiantou. A força e a decisão, o destino, estavam já escritos e sacramentados, num rico palácio em Brasília.
E hoje, este palácio estava em festa. Com a poderosa rede-povo mostrando ao
vivo, em horário nobre.
Oito da noite. Cansada. Uma floresta inteira,
a maior do planeta, totalmente parada, estagnada. À mercê duma festa. Numa
cidade cujo nome era Brasília. Brasília, porra,
ainda uma simples adolescente e designando o destino de centenas de
vidas, flora e fauna. Uma adolescente, porra, de vestidinho curto, buçanguinha
ainda sem pelos, e toda maquiada, bêbada e bancando o festão.
Sim, festa esta,
ansiosamente aguardada pelos plebeus do país. Pobres corpos destituídos de
quase tudo. Mal instruídos, mal alimentados... Desgovernados. Plebeus em corpos
de plebeus... Mal aguardando chegar o final da novela das oito para,
definitivamente, grudar os glóbulos dos olhos no vidro da TV. De nada adiantou
a grandiosa manifestação no seio da maior flora e fauna do mundo. Os glóbulos
dos olhos, profundamente grudados na tela hipnótica, deixam cegos e surdos, os
plebeus. Danem-se, porra de onça, macaco, rios e árvores. Dane-se o vento, que
nasce lá e chega tão fresquinho na cidade, assoprando com carinho seus
calorentos barracos. O importante era a festa. E ela já ia começar. Tava na
hora da pipoca e do kisuco de groselha. Alguns nem isso tinham; contentavam-se
com um pedaço de pão seco e uma dose de cachaça. Mas, quem se importa com pão
seco e kisuco de groselha, quando do outro lado da TV existe uma festa com whisk
e caviar, e tanto fidalgo(a) bonito pra se ver, invejar?!...
Haja índio, onça,
macaco, rio e árvore, para um plebeu desgrudar os glóbulos. Para pelo menos
raciocinar, talvez até chamar atenção dos outros plebeus. E haja cachaça,
mortadela e kisuco.
E pior é que estes
plebeus nem podem voltar no tempo ― como o Super-Homem fez no filme.
Apolônio Helmam Brasil,
embasbacado, caminhava. Caminhava no meio duma multidão. Uma multidão de
fardas, ternos e pomposos vestidos. Uma multidão de fidalgos fardados ou não.
Talvez fosse apenas uma impressão, mas juraria que aqueles fidalgos caminhavam
nas pontas dos pés e mantinham os queixos estranhamente levantados, empinados.
Que olhares frios, cínicos! Nossa!... Que pessoas estranhas!... Pareciam seres
de outro mundo, desembarcados numa grande festa, realizada num planeta
inferior, cujo nome era Brasília. Ah, talvez fosse só impressão de Apolônio.
Caminhava agora
junto ao homem de terno, que não se afastava um metro dele. Inclusive Apolônio, por duas vezes alertou a esse homem
que ele precisava buscar seu maço de cigarros, deixado no bolso da sua roupa,
quando exigiram que ele a trocasse pelo macacão verde-amarelo e o capacete
branco. Foi lhe comunicado que não ficava bem ele fumar logo ali, no meio de
tanta gente importante. Apolônio olhou em volta e viu dezenas de mãos segurando
charutos, cigarrilhas, cigarros e dois estrangeiros tragando cachimbos. Olhou
espantado para o homem de terno, que meteu a mão no bolso.
―Tome!... Tome um
dos meus. Mas vá fumar no banheiro!...
O homem de terno,
bem cedo chagara na casa de Apolônio, intimando que ele o acompanhasse urgente
à Brasília, que a empresa tinha uma tarefa especialíssima. Afinal Apolônio o melhor operador de máquina da grande
empresa.
Que festa. Bem em
cima do majestoso palanque, uma solitária corneta, que trazia pendurada uma
bandeirola do Brasil, começou a soar. Aos poucos foi se fazendo silêncio e a
corneta tornou-se ainda mais solitária. Toque do silêncio, toque de recolher,
toque da alvorada... Toques.
No banheiro,
Apolônio, na metade da mijada e do cigarro, ouvia a corneta. Ouviu
também a já familiar voz do seu implacável seguidor de terno e óculos
escuros.
―Senhor Apolônio,
olhe pra mim e preste bem atenção: assim que a corneta parar, o senhor vai
encaminhar-se até sua máquina que está estacionada no meio do gramado. Preste
bem atenção, pra não ter errada. O senhor vai caminhar até a máquina. Caminhe
marchando, igual no sete de setembro, com os passos bem fortes. Suba bem devagar na máquina e, antes de
entrar na cabine, vire-se e acene na direção do palanque das autoridades,
depois ligue o motor. É pra ligar e acelerar com vontade! É pra todo mundo
ouvir!... Ah, sorria sempre. Nada de cara feia! Sorria sempre. Não repare pros
aplausos, nem no foguetório. Acelere, acelere a máquina e derrube sem pena o pé
de castanheira que está bem na frente da máquina. É pra botar a bicha abaixo
com vontade!... Vou repetir: acelere fundo, atropele e passe por cima da
árvore, e sorria sempre!... O senhor tem dentes bonitos, pode abusar. Vê se não
esquece: quando a castanheira tiver deitada, é para passar por cima com
vontade!... Depois o senhor pode descer da máquina. Desça e acene de novo para
o palanque. Não esqueça: sempre sorrindo. Sempre sorrindo!...
Apolônio pediu
mais um cigarro e sentiu vontade de urinar, de novo. Saiu do enfumaçado
banheiro e um suor gelado começou a escorrer na sua coluna vertebral. A lona de
plástico verde–amarelo estava sendo retirada da sua máquina. Primeiro ficou
espantado, depois achou ridículo, sua tão confiável máquina de trabalho, toda
enfeitada com balões multicoloridos e mil bandeirolas. Dezenas de adesivos de
empresas, bancos, lojas e até duma emissora de TV. Também os símbolos dos Três
Poderes. Ah, sua valente máquina mais parecia um pavão enfeitado. Pra quê, pelo
amor de Deus, aqueles dois fuzileiros navais, prostrados ao lado de sua brava
máquina, armados até os dentes e com pesadas mochilas nas costas?!... Para
quem, pelo amor de Deus, os dois davam a sisuda continência?!...
A corneta parou de
repente e Apolônio pensou que era a hora. Chegou a marchar três passos, mas foi
contido pela sombra de terno escuro. Ainda não era a hora. A banda da marinha iniciou
a execução do hino nacional e os que estavam no palanque, inclusive os de
trajes civis, bateram continência. Pouco a pouco as centenas de convidados
espalhados pelo vasto gramado, iam aderindo à seriíssima continência. Bastava
que olhasse para o outro, que já estava na típica posição militar, para
imediatamente, ele também levar a esticada mão até a testa: sisuda continência.
Daí a alguns minutos todos estavam voltados para o imponente palanque, numa
absurda e generalizada continência. A década era de 70. E os anos, de chumbosas
continências. Ah, quantas e quantas mãos, batidas em tantas testas de ferro. Ou
de chumbo.
Ao término do Hino,
observou-se um minuto de profundo silêncio e a seguir ouviu-se uma poderosa voz
saída das caixas de som:
“ ―Atenção, atenção
senhoras e senhores. Com a palavra o senhor excelentíssimo Presidente da
República, General...”
O General Presidente
falou cinqüenta e seis minutos. Depois foi a vez ministro de gabinete, também
general, que só falou quarenta e cinco minutos, passando a vez para o general
ministro dos transportes, que falou um pouquinho mais, dando o lugar para o
general, ministro das forças armadas, que depois passou para o general...
Incrível, fantástico...
extraordinário!... Duas horas e pouco de intensa falação, general-izada e as centenas de fidalgos ali em pé, com as mãos em
riste, na testa. Porra, será que nem
câimbra sentiam? Por pouco Duque de Caxias, outro General, não arrebenta sua
catacumba e vem participar daquela delícia.
E a corneta recomeçou
seu soar melancólico. De repente começou e de repente parou.
―É agora, Senhor Apolônio!... Não esqueça o
que lhe falei!... Se mexa, homem!...
E Apolônio marchava ao
encontro da sua enfeitada máquina. Segurava com força o cano de ferro que
empunhava a grande bandeira do Brasil. Os pés pareciam duas bolas de chumbo e
as atléticas pernas, tão acostumadas a duros pedais de freios e embreagens,
agora tremiam e tremiam. Quanto mais marchava, mais longe parecia ficar a
bendita máquina.
Enfim, conseguiu sentar
no banco da cabine. Os refletores e flashes de dezenas de fotos o cegavam.
Custou a achar o tão familiar botão vermelho que ligava a máquina. Não podia
deixar de sorrir. “–Sorria sempre!...” E pensar que tudo isso tava sendo
transmitido ao vivo... O que, neste momento, estariam comentando, sua esposa e
filho!?... E os vizinhos!?... E os colegas de trabalho!?... Acelerou.
Acelerou com raiva como
se quisesse estrangular o poderoso motor. Jorros de fumaça negra fugiam pelo
cano de escape. Engrenou a marcha e partiu pra cima da secular árvore. O
silêncio de todos, cortado apenas pelo ronco do motor, permitiu ouvir-se
nitidamente a pancada seca e a seguir o estalo e o sinistro som do baque da
secular árvore de encontro ao solo. Por um segundo Apolônio julgou ver aquela
árvore sorrindo para ele. Nunca soube decifrar aquele sorriso. Por toda sua
vida, Apolônio passou tentando entender que
diabo de sorriso fora aquele. Jamais conseguiu.
Imenso. Grandioso.
Quase vinte minutos e o foguetório não terminava. Estrondoso. Aplausos,
gritaria, tiros pro alto... Apolônio mal saltou da máquina e já foi seguro num
braço pelo seu implacável seguidor de terno e óculos escuros. Devido ao barulho
quase não ouviu: “―Tome um cigarro! Mas vá fumar no banheiro!...
EM
VÁRIAS PRAÇAS DO MUNDO
MÃES
CHORAM DESENGANADAS
FILHOS
MORTOS OU TORTURADOS
BANDEIRAS
CONTRA ARMADAS
EM
VÁRIAS PRAÇAS DO MUNDO
MÃES
CHORAM DESESPERADAS
FILHOS
PRESOS E VICIADOS
ELITES
E FAVELADOS
QUAL
SERÁ A PRAÇA DO MUNDO
QUE
ABRIGARÁ TODAS AS MÃES
MÃES
DOS RIOS E DOS PEIXES
DA
ONÇA E DO MACACO
MÃES
DE TODA A PASSARADA
QUE
PRAÇA ABRIGARÁ AS MÃES
DA
FLORESTA ANIQUILADA?...
Não. Nunca, nem ninguém
soube direito o que aconteceu. Plebeu nasce e morre plebeu. Por isso juram que
não sabem o que houve em suas TVs, naquele sábado à noite, precisamente no
início da transmissão da grandiosa festa. Os pedaços de pão seco e os
pacotinhos de kisuco, sabor groselha, já estavam em cima das velhas, tortas e
desforradas mesas, carcomidas pelos cupins. As garrafas de cachaça vagabunda
foram retiradas de baixo dos tanques de lavar molambo, assustando as ratazanas
que lá fazem morada. A mortadela ficou fiado e o dono do armazém atendeu de mal
vontade, dizendo que só podia ceder meio quilo.
Mas, que interessava
isso?!... O importante, para a rude plebe, era a transmissão da grande festa em
Brasília, que já ia começar. “Cada roupa, cada sapato, pra gente ver!...” “E
os cordão de ouro?! E os brinco?!” “Ah, se meu filho fosse das Forças
Armadas...”
O que aconteceu? Ah, sim, quando a TV mostrou
a primeira imagem do festão, todos, todos os televisores do país perderam a
freqüência e as imagens sumiram. Em todas TVs do país! Até aí, os plebes
perceberam. Só não ouviram foi o grande
estrondo do trovão e a inconfundível voz de Gilberto Gil, soando dos autos falantes
das TVs sem imagem. E era Gil, quem cantava em alto e bom tom: “Vai começar circular o expresso, dois,
dois, dois, dois; que parte direto de Bonsucesso, pra depois...”
Não. Isso ninguém viu
nem ouviu. Talvez por ter durando só dois ou três minutos. Tempo absolutamente
curto, para os olhos e ouvidos da plebe. Então, logo tudo voltou ao normal. As
imagens retornaram. Até mais nítidas.
A plebe é rude.
Não, não se pode, nem se deve culpá-los, crucificá-los. Seria covardia. Mas não
tem como passar despercebido. Plebe rude de olhos e de ouvidos, incrivelmente
rude de cabeça. Talvez o pão seco e o kisuco, impeçam que acordem, raciocinem.
Sim, o consumo diário destes famigerados produtos, causam irreversíveis danos
aos seus cérebros. Mantém, porém, a notável capacidade de, quase todos os dias,
retirarem os glóbulos dos olhos e grudá-los no vidro da TV. Os adesivos usados
como grude atendem por diferentes nomes: futebol, carnaval, novela e festa de
rico. Em épocas de Copa do Mundo, o grude tem o prazo de validade adulterado,
para que possa valer os trinta dias do mês. Geralmente acontece em junho.
Existem perguntas, cujas respostas sofrem a gravíssima ameaça
de ficarem, anos e anos, retidas na estratosfera terrestre. Ou, o que é pior:
perderem-se para sempre nos confins do universo. Não!... Não são perguntas de
respostas difíceis. Não são perguntas de respostas impossíveis. O difícil,
quase impossível, é manter essas respostas presas entre os dedos, ou, bem
seguras na palma da mão. Difícil mantê-las pelo menos ao alcance dos glóbulos
dos olhos desses quase inocentes plebeus.
Como, como achar
resposta para uma floresta ―a maior do planeta― totalmente a mercê de vorazes
criaturas, com seus sorrisos de hiena, numa festa grandiosa?!... Todas vestidas
com fardas de gala e ternos importados.
Como, como responder a espantosa passividade
dos plebeus, batendo palmas e exibindo seus banguelas sorrisos, enquanto mãos
de película extraem sua última máscara de oxigênio?!...
Como, como achar
resposta para tanto whisk e caviar para tão poucos e tão pouco kisuco e pão seco
para tantos?!...
Afinal, de que
será feito o poderoso grude que cola olhos e vergonhas em simples retângulos de
TV?!...
Que poder mágico
existirá nos estômagos desses plebeus, para suportarem tanto, tanto pão seco
com kisuco de groselha?!... Ano após ano!
Onde, onde será o
fim do cosmos?!...
Haverá uma vela no
fim do Buraco Negro?!...
Não, nem Apolônio,
um simples operador de máquina, sabe como responder.
Sim. Apolônio
apenas sabia que rinha que derrubar uma árvore, que estava impedindo o
início da “ Obra do Século”.
FIM!
(Pseudônimo: eleaesse)
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