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lugar no Prêmio Radiotelegrafista Amaro Pereira de Crônica
Nome: Geraldo Trombin.
Cidade que representa: Americana/SP.
Pseudônimo: Ana Crônica.
Crônica: “Achômetro”.
"ACHÔMETRO"
Tem gente que acha que está na profissão de fé do Vaticano ou nos braços escancaradamente abertos do Cristo Redentor. Tem gente que acha que está lá pertinho do céu: na nuvem que passa alheia ao tempo do relógio, no voo de um passarinho desatento à correria dos homens, no rastro de um Boing transportando destinos ou bem no topo da Torre Eiffel.
Tem gente que acha que está nas
tentadoras cartas de vinhos do Porto ou nas românticas, piegas e apaixonadas
cartas de amor. Tem gente que acha que está na queimação da carne, na brasa dos
brutos nas coxas das Anas do porto.
Tem gente que acha que está no haimi dos hacais de Bashô, nos quatro versos
com rimas ABAB e sentido completo das trovas de Luiz Otávio ou no grande
universo de versos de Leminski, Quintana, Gullar ou Drummond. Tem gente que
acha que está nas palavras do Museu da Língua Portuguesa, nas histórias Museu
do Ipiranga ou nos vernissages do
MASP. Tem gente que acha que está no olhar cândido de uma criança. Tem gente que acha que está nas mãos
seguras da maturidade ou nos pés experientes da melhor idade.
Tem gente que acha que está no
“Libertango” de Piazzola, no rock pauleira do Led Zeppelin e Black Sabbath ou
na androginia do The New York Dolls. Tem gente que acha que passeia calmamente
pelos teclados eruditos de Arthur Moreira Lima ou se agita nas loucas
experimentações do albino Hermeto Paschoal. Tem gente que acha que está nas
sete maravilhas do mundo. Tem gente que acha que está em Marte, Netuno, Saturno
ou no mundo da lua (Salve, São Jorge!).
Tem gente que acha que está no galho da
roseira, na copa dos ipês ou nos tapetes florais sobre as calçadas do outono.
Tem gente que acha que está nos bonecos de neve ou no trenó e no “ho-ho-ho” do
Papai-Noel. Tem gente que acha que está nas graças do trabalho ou no balanço da
rede do ócio. Tem gente que acha que está na corrente de ouro, no brinco de bijuteria
ou em uma simples pulseira de plástico.
Tem gente que acha que está no relax de cada estourinho do
plástico-bolha, no estalar relaxante dos dedos ou no sabor de infância do
bolinho de chuva da vovó. Tem gente que acha que está nas cinzas da ponta do
cigarro, nas cinzas de um ente querido ou no sentido profundo da quarta-feira
de cinzas.Tem gente que acha que está na paixão dos eternos namorados. Tem
gente que acha que está na eterna sexta-feira da paixão.
Tem gente que acha que está no rodopio
deslizante do pião no chão das quimeras, nas deliciosas brincadeiras de
garrafão, passa-anel ou esconde-esconde. Tem gente que acha que está no jogo:
de cartas, dama, sinuca ou loteria.Tem gente que acha que está na bola de
futebol chacoalhando a rede ou na bolinha de gude fubecando o adversário e
caindo no buraco das vitórias.
Tem gente que acha que está nos braços e
abraços do grande amor da sua vida ou do verdadeiro amigo. Tem gente que acha
que está no estender fraterno da mão ao irmão. Tem gente que acha que está no
reflexo poético da lua na lagoa, no rio ou no mar. Tem gente que acha que está
no brilho intocável das 3 Marias ou da Via Láctea.
Tem gente que acha que está no assobio
desavisado do papai ou da mamãe cuidando do dia a dia, no canto alertador do
bem-te-vi protegendo o filhote ou no cântico fervoroso dos templos e igrejas.
Tem gente que acha que está na
simplicidade e na meditação do Caminho de Santiago de Compostela; nas missas,
nos terços e santos comercializados em Aparecida do Norte ou na peregrinação
pelas rampas e escadarias do Santuário de Santa Paulina em Nova Trento. Tem
gente que acha que está nos balneários dos Circuito das Águas, nos passeios de
moto pelas regiões montanhosas dando a cara para o vento bater ou no campo
ordenhando vacas e galopando sonhos.
Tem gente que acha um tantão de coisa, mas
jamais se encontra, porque simplesmente não sabe que a bandeira branca sempre
esteve hasteada dentro do próprio peito. Só que nunca abriu as portas da sua
sala interior, muito menos se convidou para entrar, se sentar e ali ficar
(horas e mais horas), prazerosa e atentamente, curtindo e dando ouvidos ao que
Zizi Possi e Gil já entoaram tão maravilhosamente bem: a paz invadiu o meu
coração...
Pseudônimo: Ana Crônica.
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